segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sobre gramática e abstrações

Na escola, sempre fui ótima aluna. Português era a minha especialidade. Mas, como nem tudo é perfeito, tinha uma coisa que eu sempre errava: substantivo abstrato. Acertava tudo na prova, com o único erro de sempre: “retire do texto um substantivo abstrato”. Lembro da minha mãe, na entrega das notas, pedir à professora uma atençãozinha especial, porque eu sempre errava isso.

Passou a época em que o difícil do português era o substantivo abstrato, e eu sobrevivi a outras matérias bem piores. Eis que, formada, ao prestar um concurso público de nível superior, para o Ministério das Comunicações, erro uma questão por causa da bendita parte do item que classificava dois substantivos como abstratos.

Mais do que a infantil frustração do erro, me coloquei a pensar: será possível haver dificuldades etéreas? Existem coisas nessa vida que nunca superaremos, ou demoraremos anos a fio para superar? Longe do “erro abstrato”, essa dúvida me desespera.

O desespero, apesar de ser um substantivo abstrato (será que acertei?), anda pairando bem concreto na vida. Mas será um desespero real ou puro devaneio, fruto da imaginação, aquela mais abstrata ainda?

Me parece muito abstrato acreditar, passivamente, que um dia a gente supera. Até hoje eu não aprendi a classificar substantivos concretos e abstratos. Será possível separar desespero tolo, de reflexão profunda e superar o erro? Vejamos na prova do Ministério da Saúde...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Adolescente

O coração dispara, a fome diminui, a concentração já era. Batedeira quando chega perto, dor de barriga quando está longe. Devaneios sempre, pé no chão raramente. A bateria do celular acaba de tanto abrir pra ver se alguém ligou. O juízo prejudicado. O cinza, vermelho. De repente uma rata e você acha que pôs tudo a perder. Consulta a melhor amiga. Calma, não foi tão ruim assim. Consulta o travesseiro, pega no sono. Sonha. Acorda, vai do pranto ao riso em trinta segundos. Escuta a cantora preferida. Dá uma conferida na internet, ninguém. Finalmente ouve a mãe, que tá gritando há meia hora. É hora de ir pra escola, tem prova de matemática e você não estudou...

Às vezes dá uma vontade de ter quinze anos....

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A professorinha

Era uma vez uma menina que adorava brincar de escolinha. A primeira coisa que ela disse que seria quando crescesse foi “professora”. Momentaneamente dissuadida pela mãe, ela passou a falar que ia ser dentista. Mais tarde, já perto da decisão, não sabia ao certo o que queria ser. Um dia, decidiu: jornalista.

Apesar de uma leve tendência indicando para o curso de “Letras”, ela estudou muito, fez vestibular e passou para Jornalismo. À esta altura, já tinha esquecido da profissão com a qual sonhava quando era pequena.

Ainda no primeiro semestre do Jornalismo, nem tão crescida assim, aos 17 anos, recebeu um convite para ser professora. Sem hesitar, aceitou.

Durante quatro anos, ensinou muito e aprendeu mais ainda. O cansaço da semana inteira de estudos e o fato das aulas serem na sexta a noite e no sábado de manhã não tiraram dela o entusiasmo de ser professora, mesmo nas muitas vezes em que ela não conseguia fazer calar a turma bagunceira.

Todas as adversidades ficavam pra trás quando alguém dizia que aprendeu alguma coisa graças à aula dela e que ela era um exemplo; ou quando ela acertava o tema da prova do vestibular e depois via os seus ex-alunos passeando pelo campus da universidade. Não interessavam as críticas, as milhões de reclamações de que a aula estava chata ou as revoltas com notas baixas. Ela tinha convicção.

Tentou ensinar algumas coisas e aprendeu o valor dessa tentativa. Quando voltava para a posição de aluna, sabia exatamente o que seu professor sentia quando pedia silêncio. Assim, aprendeu o valor das pessoas que doam as vidas por outras e o desvalor da sociedade para com uma profissão tão bonita e importante.

Hoje, ela sente muita saudade das salas de aula, pois não mais pode compartilhar o jornalismo e a educação. Porém, ainda sonha com a utopia de um mundo melhor a partir da formação de pessoas melhores e com o dia em que ela voltará a ser uma professorinha.

Feliz dia do professor!!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Memórias, crônicas e declarações de amor

Meu sonho é ter motivo para cantarolar por aí um tema de amor. Não é fácil não pensar em você. Faz a gentileza de aparecer? Não é proibido, pode chegar... Tá divertido!

Bem que já se quis chegar. Mas foi quando eu só queria saber de balançar a pema por aí. Agora que eu sou uma maria de verdade e já sei namorar, não tem flores, beija eu, muito menos amor I love you. O negócio tá mais pra dança da solidão e aí só resta chocolate pra espantar a tristeza.

Enquanto isso, anoitece em certas regiões, inclusive na sua. Perdemos tanto porque não pudemos esperar cinco minutos. Ou seria porque a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte... Será que exigimos demais? Pra ser sincero, eu acho que não. Acho que mereço alguém a altura do meu infinito particular.

Passe em casa, tô te esperando! Tão impaciente e aflita, meio desligada; mas não se assuste, não vá embora. Seja como for, eu sei, um dia eu vou estar a toa e você vai estar na mira.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Origens

De repente, a rotina muda totalmente. Chegou julho. A cidade, os arredores, a zona rural, a vizinhança se apronta para a festa. Aquele que é o maior e melhor evento do magrinho calendário social característico do interior.
As crianças mal podem esperar pela época do ano em que têm um parque para brincar. Arrastam suas mães por todos os brinquedos, várias vezes, debaixo do sol quente; não importa. Os mais crescidinhos juntam todas as moedinhas possíveis e lotam as barracas de vídeo-games.
Os adultos se dividem em vários grupos. Uma parcela mínima insiste na postura purista de que a festa é religiosa, querendo acabar com a alegria carnal da galera do lado de fora da igreja. Outros se aproveitam do momento pra fazer uma moral com Deus, vão às novenas e renovam sua fé até o dia do baile ou até a barraca mais próxima, quando se entregam aos vícios mundanos. Tem também os que nem disfarçam. Eles sabem que, originalmente, é a festa da padroeira da cidade? Han? Padroeira?
Não importa se é pra ver Deus ou se é pra ver gente, o fato é que todo mundo capricha no visual. Nesta época do ano as pessoas ressuscitam as melhores roupas do guarda-roupa, as lojas se enchem daqueles que querem roupas novas, os salões não abrigam todas que querem se arrumar. A economia da cidade agradece pelo maior movimento do ano.
Lá se vão todos, enfeitados como nunca se viu. Comem, bebem, brincam, se divertem. Uma diversão quase pura, apesar do muito que já se desvirtuou da tradição. Ficam os leilões de prendas oferecidas pela elite da cidade, com a renda revertida para a Igreja. Ficam as conversas das comadres vizinhas de fazenda. Fica a procissão no último dia e o feriado na segunda. Quando eu era menina, ia nas “barraquinhas” para brincar na barraca de pescaria e comprar um monte de porcaria de camelô. Hoje, o que rola é fliperama e o comércio é de roupas, sapatos, bijuterias...
O “baile” era a sensação da minha vida quando eu tinha quinze anos. Comprava roupa e ia lá se esbaldar de dançar com as amigas. Este ano eu retornei, depois de muitos sem ir à festa. Serviu pra rever velhos amigos daquela época, ver quem tá namorando, quem separou, quem casou e aquele que nunca vai casar. Quem emagreceu, quem engordou, o patinho feito que agora é gato, quem continua a mesma coisa de sempre, quem subiu na vida, quem não larga da mentalidade interiorana.
Deu pra ver que o mundo dá voltas, mas que é sempre bom voltar onde elas começaram.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Existe par perfeito?

Eu fico aqui sonhando acordada com alguém que ainda não apareceu, nem mandou um sinalzinho de fumaça. Ou teria mandado? Se mandou, eu saberia ver na fumaça o desenho de um coração? Se o príncipe pegou um jatinho e apareceu quando você tinha 15 anos ou se tá vindo de jegue e só chegará aos 30, não importa. Importa é saber: ele existe mesmo? Tem alguém pra te receber no final do tabuleiro, enquanto ainda estão rolando os dados dessa brincadeira maluca?

Eu sinceramente não sei, nem acredito ser a pessoa mais indicada para discorrer sobre a existência ou não da tampa da panela, da metade da laranja, da cara-metade ou do nome que você quiser para designar o par perfeito. O meu eu-lírico da fase Romântica quer acreditar que sim, que tem alguém nos planos divinos, mágicos, esotéricos ou cartesianos da sua existência. E que, mesmo se ele estiver no extremo norte do hemisfério norte, você vai encontrá-lo, olhando a mesma prateleira de uma livraria, no metrô, na fila pra pesar o pão ou na poltrona ao lado do cinema. O meu eu-lírico da fase realista diria que é apenas uma questão de conveniência e sorte encontrar alguém da sua turma da faculdade, do trabalho, que tenha lá uma característica em comum e uma dose de atração carnal e pronto, ambos entenderem que são pares.

Eu pendo para dizer que faz parte dessa brincadeira ficar uma rodada sem jogar, avançar duas casas, recuar três. Mas no final, todo mundo gosta de brincar e aprende a ganhar e a perder. Logo, existindo ou não o par perfeito, o importante é brincar...

Eu só tenho um graaaaaaaaaande questionamento sobre o tema. Como eu sei quem pode e quem não pode brincar? Dá um medo de pensar que eu já deixei essa pessoa passar e nem abri a porta do parquinho pra ela entrar e se divertir! E aí? Tem o par perfeito número dois, três? Quantas são as chances de convidá-lo pra dançar?

Eu já sei que não tem par perfeito perfeito como nos contos de fadas. Mas deve ter par perfeito com defeitos, tipo gente de carne e osso, do mundo real...

E você, acha que existe um par perfeito? Já encontrou?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Cansei

Cansei de amores que cabem no diâmetro de uma só cabeça. Cansei de romances que alcançam o raio de uma só imaginação. Cansei de emoções que fazem bater só um coração. Cansei também dos sonhos que colorem a noite de apenas uma pessoa e de planos que planejam uma vida.
Cansei de você, cansei de mim mesma e da ilusão de um nós dois.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Julho


Perceberam que chegou julho? Como assim? Ontem era dia 27 de janeiro e eu começava no meu trabalho novo, na cidade nova, na casa nova, na vida nova. Hoje já é quase velha. Já virou rotina, já me importo em sair horas depois do trabalho, já cansei de ser chique e de ver o ministro.

Chegou julho e chegaram milhões de preocupações futuras muito além dos tradicionais planos: férias e aniversário. Chegou julho e chegou a sensação angustiante de "o tempo está passando e eu estou só assistindo". Chegou julho, com o frio, a gripe suína e a morte do Michael Jackson.

E a minha vida tá cansada de ver julhos iguais, que na verdade são diferentes, mas que dão sensação de quero mais. Sempre trabalhando, sem férias, descarregando o stress na baladinha do dia 29. Chegou julho junto com a vonta de fazer diferente, vide o www.essamocatadiferente.com

Chegou julho com uma personalidade que não aguenta mais o mediano, o fútil, o fulgás. Chegou julho com a vontade de ser mais. Chegou julho com a vontade de ser mais, já sendo mais.

Chegou um julho complexo, maduro. Ele mostra um horizonte, que não é da boca pra fora. É da boca pra dentro mesmo. É uma agonia louca de ser mais Ana Paula.

Chegou o julho dos 22 anos com horizonte nos 30. Chegou um julho bom, por mais que difícil.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Jornalistas-blogueiras lançam o projeto “Essa moça tá diferente” (Nós sambamos assim!)

Um dia a gente se cansa das mesmas coisas, dos mesmos erros, caminhos e por quês. Um dia, a gente resolve mudar tudo, começar de novo. A gente fica diferente porque cresce, termina a faculdade, arruma emprego ou simplesmente muda de opinião.

Três amigas, três jornalistas, três blogueiras que descobriram que a mudança é algo contínuo e, por isso, ninguém tem noção exata de sua dimensão. Por tantas mudanças e sonhos antigos, eis que surge o projeto Essa moça tá diferente.

O site quer discutir o dito banal, simples, dizer o que se pensa. Não há intenção de pirâmides invertidas e construção de notícias. Quer, apenas, a vida em letras, da forma que vier.

Serviço:
O quê? Projeto Essa moça tá diferente
Onde? http://www.essamocatadiferente.com/site/
Quando? Às Segundas: Ana Paula Vieira
Às Quartas: Marília Almeida
Às Sextas: Ana Flávia Alberton

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Odeio casais felizes

Mais um ano se passou
E nem sequer ouvi falar seu nome, a lua e eu
Caminhando pela estrada
Eu olho em volta e só vejo pegadas
Mas não são as suas eu sei,
Eu sei, EU SEI
O vento faz eu lembrar você
As folhas caem mortas como eu
Quando olho no espelho
Estou ficando velha e acabada
Procuro encontrar
não sei onde está você
VOCÊ VOCÊ....
o Vento faz eu lembrar você
As folhas caem mortas como eu...
A lua e eu
****
Permitam-me um post desabafante-depressivo, um rivotril inteiro hoje, rios de lágrimas e o mal humor. Permitam-me lamentar o pior dia do ano, a dor dele continuar sendo o pior e a sensação de que nada muda; de que eu continuo sem preencher de nomes os pronomes de todas as músicas que eu escuto e de gente os espaços vazios do meu dia.

****
Permitam-me também dizer que antes só, do que mal acompanhada.

bjomeliga!

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Vento candango


É um vento sul encanado entre os prédios quadrados do setor comercial. Um vento que não faz voltinhas, como nos desenhos. Um vento que desce reto, cortando o meu rosto e fazendo cócegas no meu pescoço. É um vento que gela o dia, apesar de uma beiradinha de sol que sai ali do lado daquela pilastra. É o vento que me recebe todos os dias, quando eu saio do subsolo e me deparo com aquele pedacinho de eixo monumental. É um vento chique, que permite cachicol, bota e casaco (sem ser na pecuária). O vento me diz bom dia, e pasmem, eu até respondo: “Bom dia, Brasília!”

Será que eu estou me adaptando?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Extra! Extra!

Pesquisador conclui que mulher é mais inteligente que o homem

Da Agência Estado
Em São Paulo

Depois de analisar 137 mil notas tiradas durante um semestre por 22 mil alunos de 30 cursos superiores de uma universidade privada carioca, o pesquisador José Abrantes, concluiu que as mulheres são mais inteligentes do que os homens. Na média, as notas delas foram 3% superiores às deles. Na análise, por disciplina, de 12 tipos de inteligência, elas mostraram melhores resultados em nove e eles em três.

Os homens são mais hábeis usando as inteligências matemática-lógica, visoespacial e cinestésico-corporal. Já as mulheres na pictórica, ultrapessoal, interpessoal, naturalista, existencial, musical, social, linguística e emocional. Segundo Abrantes, os homens demonstraram maior compreensão matemática, mais capacidade para entender mapas e se localizar no espaço, além de se saírem melhor na inteligência corporal e nas atividades que necessitam de força.

Já as mulheres apresentaram mais facilidade de se expressar pela escrita e pela fala, maior entendimento de questões filosóficas, habilidade para desenhar, para a música e para usar os conhecimentos no meio ambiente. Elas ainda levaram vantagem na inteligência emocional, no autoconhecimento, na capacidade de se relacionar com os outros e de equilibrar competição e qualidade de vida.

****

Novidade nenhuma, né garotas?? Sabemos que somos mais inteligentes que eles. Mas, na minha opinião, pecamos num quesito: na calma. Mesmo que tenhamos mais conhecimento, eles podem se sair melhor naquela prova pelo simples fato de que não estão nem aí. Mulher se preocupa demais, pensa demais, analisa demais; e digo isso me incluindo, claro.

Pensem bem, aqueles meninos do fundão, tranquilões, de boa, que conversavam na aula, azaravam as menininhas no recreio, não passaram no vestibular? E eu me matando de estudar, chorando, sofrendo por antecipação com a ideia de não passar. Totalmente passional.

E é aí que a pesquisa perdeu a validade, segundo minha humilde visão. Quem em sã consciência concorda que nós, mulheres, temos mais inteligência emocional que os homens? A gente perde o equilíbrio toda hora: porque ligou, porque deixou de ligar, porque fulano não atendeu o celular... E não adianta, não é o meu velho problema de sanidade mental não; TODA mulher é assim, confessem gatas! Um desequílibrio fino e elegante, claro; mas que não deixa de ser desiquílibrio...

Ao mesmo tempo, é aí que está toda a graça. A intensidade. A vontade de ser tudo ao mesmo tempo, de querer tudo ao mesmo tempo e de lutar por tudo ao mesmo tempo. - o que gera uma potencial tendência à loucura. E aí, tenho que invocar Martha Medeiros para traduzir perfeitamente o que eu quero dizer:

"Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos. Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota".

=***


quarta-feira, 20 de maio de 2009

ARE BABA!!!

Já perceberam como as gírias são sazonais, certo? O "iraaaaado" de hoje é o "massa" de ontem. Elas se renovam. Assim como a língua é dinâmica, os desvios da língua culta também o são. Assim, as gírias denunciam as gerações. Quando eu estranhei minha aluna dizer "to de brinks", eu denunciei o quanto sou mais velha que ela. É igualzinho quando meu professor de mátemática escreveu "Supimpa!" na prova que eu tirei 10. E assim por diante...

***
Reparem como a temporalidade das gírias está ligada às novelas. Não gente, não é a Rutinha, é a Glória Perez mesmo. Are baba, já repararam como as novelas dela mudam o linguajar do país? Eu sei, eu ando vendo novela demais, tick. Mas quem disser que não copia uma palavrinha dessas vai arder no mármore do inferno! Não é um must aquele sotaque indiano?
Eu não sou viciada, nahim! Vejo novela de vez em quando... E tenho teorias sobre, mas que rendem outro post. Agora, se quer me matar com a faca da cozinha, me deixe em casa no sábado, me dando a oportunidade de ver a novela e Zorra Total. Aí NÃO POOOOOOODE. Jesus me abana!. (Jesus ou Lorde Ganecha?)
***
Falando em novela, lembrei do filme. Segundo minha amiga Marília, "Ir ao cinema sozinha uma vez é desafiador, (...) uma prova de amor a si mesmo. Ir ao cinema sozinha duas vezes é provar que esse amor é de verdade, vai longe…" E a terceira, é o quê?
Não, não vou fazer meu quinquagésimo post-desabafo teorizando sobre a minha solidão. Vou contar do filme: Anjos e Demônios. Não, também não vou fazer uma resenha, com técnica, que é o que usualmente esperam de nós, jornalistas. Vou apenas dizer que não gostei; que o livro, que eu li pelas metades, expressa muito melhor a emoção da trama, que eu acho ótima.
***
Adorei o meu post a la Martha Medeiros, com asteriscos. rsrsrs
Só pra ver se eu volto a postar aqui e espanto a minha crise blogueira...

Eu vou, e volto! Namastê.
bjusss!!!

domingo, 19 de abril de 2009

Futebol mulherzinha

Eu sempre gostei de futebol, já disse e escrevi no blog. Neste mês, eu acompanhava, empolgada, o campeonato paulista, já que sou corinthiana. O timão chegando na final e eu vendo a ascensão do time, invicto! Com um atrativo "de peso" (não resisti ao trocadilho...): Ronaldo fenômeno.

Quando contratamos, eram gordas as críticas. E a gordura ficou pra trás. O Corinthians foi o campeão paulista de 2009 sem perder, algo que não se via desde 1972, com atuações decisivas de Ronaldo, mais um no bando de loucos...... Looooooooooucos por ti, Corinthians!!!! Tá bom, vou me conter.

Além do título, as emoções. Tirar o São Paulo na semi foi bom demais. Virar o primeiro jogo nos acréscimos e fazer dois a zero no segundo com direito a Ronaldo esbanjando da forma física para fazer um golaço depois de uma arrancada, não tem preço.

Porém, mais cara ainda é uma amizade. Assistir Corinthians e São Paulo com a amiga são-paulina viciada, foi um dos episódios que me fez sentir o bom e o simples da vida. Futebol mulherzinha é assim: a Skol vira um pote enorme de brigadeiro com litros de coca-cola. O xingamento mais pesado é “viadinho”. – Vai, pra esse menino aqui! -Amiga, esse menino é o Ronaldo... -Isso, pro fenôôôômenoooooooo...

*****

Despachado o São Paulo, o próximo adversário era o Santos. Na Vila! E eu no shopping com as meninas. Mas deu tempo de chegar e ver o golaço do fenômeno. "Por cobertuuuuuuuuuuuuuuuuura, Marília!!!!!!!!!!!!"

Futebol mulherzinha é assim... E não me venham com preconceitos. Mulher entende de futebol sim. Eu analiso tecnicamente a partida e faço comentários melhor do que aquele comentarista corinthiano totalmente parcial; que eu adoro, mas que é mais torcedor do que comentarista.

sábado, 4 de abril de 2009

Burungundum bateu meu tambor

Minas com Bahia
(Chico Amaral)

Sacudir estrelas
Despertar desejo
Numa noite fria
Uma noite fria
Uma noite fria

No meio da rua
Lá de longe eu vejo
Minas com Bahia
E o samba ia
Juro que ia

Amanhã é domingo, menina
Ninguém vai te acordar
Deixa chover na esquina
Deixa a vida rolar

Burungundum bateu meu tambor
Quero cuncunca rever meu amor
Ti ri ti tira a esteira daqui
Porque só vim buscar (meu amplificador)

Sacudir o mundo
Procurar no fundo
O que leva uma dia
Até outro dia
Até outro dia

Uma horas dessas
E você tão só
Eu fiquei com dó
Eu só disse ó
Eu te quero muito bem

Nessa noite fria, como todas em Brasília, eu vou fazer
minha estreia na night candanga.
Vamos lá, vou sacudir o mundo, procurar no fundo,
a vida dessa cidade! Porque até hoje não encontrei.
O povo é frio como o clima...
Mas eu vou buscar meu amplificador..
Pra ampliar a minha vida, as minhas possibilidades,
a felicidade.
E o melhor é que...
Amanhã é domingooo, ninguém vai me acordar......

=****

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Tapa na cara


Essa semana eu vi uma entrevista da Grazi por aí. Ela dizia: "Eu sou um mulherão, eu dou a cara a tapa!" Pergunta: e quem é que bate nessa cara aí, minha filha?! Me conta!

Eu também sou um mulherão, também dou a cara a tapa. O pior é: eu levo na cara meeeeeesmo!
kkkkkkkkkkkkkk

terça-feira, 31 de março de 2009

Só um desabafo II, o retorno

Outra da série "Escutei conversas de terceiros":

No elevador, em Brasília, dois homens conversando:

- As pessoas só precisam de carinho. Se você deu carinho para preencher a vida daquela pessoa, pronto, você conquistou.
- É verdade.

Não, eles não eram gays.

Talvez equilibre o choque que eu causei nas minhas amigas com as declarações ouvidas anteriormente.

P.S.: Eu e essa minha nova mania de escutar conversas alheias. Jornalista tem que ser curioso, não? Considero qualidade primordial na minha profissão; o que seria de nós sem o movimento de querer saber? Nada. Portanto, continuarei ouvindo... rsrsrs

sexta-feira, 27 de março de 2009

Agora sim, um texto de verdade: Brasília II

Dois meses morando em Brasília. Por enquanto, algumas certezas e muitas dúvidas.

Certeza de que eu fui abençoada e sortuda porque consegui um emprego muito bom e que me abre muitos caminhos; mas isso não é apenas quanto a mim. Uma forte impressão sobre a cidade é a de que ela é cheia de oportunidades. O desenvolvimento começa aqui, mas isso não é novidade nenhuma, tanto é que já me acostumei com o jeito carioca, a saudade dos goianos (que não é só minha), o sotaque nordestino e os olhos azuis vindos do sul.

Brasília parece não ter identidade de povo; o que não significa que não a tenha. Tem uma identidade burocrática, que só remete ao poder, às decisões administrativas e políticas tomadas aqui e que afetam o país, por que não dizer, o mundo. Isso influencia o povo, que se torna também burocrático, não dá bom dia no elevador, não conversa na estação do metrô e não faz questão de ser simpático. A não ser, é claro, que a pessoa em questão não seja um mortal qualquer assessor de comunicação da associação de sei lá quem; seja filho do fulano do ministério tal, sobrinho do deputado que vota aquela lei ou amigo do cara do Banco Central.

É cinza. Ainda não vi o sol aqui; um sol bonito, que brilha. É cinza nos dois sentidos, no metafórico e no real. Além da cinzenta frieza humana sobre a qual falei, aqui tá nublado todo dia, chove e faz frio, muito frio. O cinza contrasta com a arquitetura impecável dos altos prédios da capital federal. Outro elemento da identidade brasiliense: as construções suntuosas, transbordando decisões, negócios, problemas e política pelas janelas.

Aqui é assim, e eu tô cada dia mais parte dessa coisa horrível. Por isso que eu vou pra Goiânia todo final de semana, e nunca quero voltar.


Só um desabafo

Essa semana andei demais por aí e escutei duas frases que me chamaram atenção sobre uma causa que eu milito há alguns meses: a valorização da mulher por parte do homem.

Frase 1: "Ah, essa é só pra ir pra contabilidade!"

Frase 2: "Essa aí ele pegou lacrada!"

Pelo amooooooooooooor de Deus, onde está o respeito, o romantismo, a delicadeza?

A minha frase é: vai pro blog! Cuidado....

quarta-feira, 25 de março de 2009

De repente 30

Diferentemente da mocinha do filme homônimo ao meu post, que, de repente, se vê voltando ao tempo e adotando comportamento de uma menina de 12 anos de idade, eu acabo de perceber que adiantei minha vida. De repente, me sinto com uma enorme responsabilidade de adulta, tipo, com 30 anos.

De repente, eu sou testemunha ocular de uma medida que muda a vida de milhões de pessoas do país, e estou lá justamente quando o ministro apresenta as mudanças para a Associação em que trabalho; em primeira mão, claro.

Naquela sala, decidia-se sobre o futuro da educação no país; e eu sentia o peso de ser adulta e jornalista, responsável, em parte, pela mediação dessa informação para a imprensa nacional. Enquanto escrevo esse post, Fátima Bernardes dá a manchete no Jornal Nacional (sério!).

Depois de horas de reunião, chega alguém que informa ao ministro: a imprensa está esperando. Aí sim, ele e o presidente da entidade em que trabalho foram para a sala de coletivas do MEC, e os outros jornalistas da face da terra tiveram acesso à informação. rsrsrs Tá bom, eu sei que eu tô empolgada; mas é muito interessante sentir a responsabilidade social do jornalismo, o poder da informação e o poder que você tem sobre ele. A partir daí, meu celular não parou de tocar; com direito a produtora do Fantástico, gravação no SBT, entrevista para a CBN.

Parte II
Ok, superada essa fase, comi alguma coisa em 30 minutos e fui para a primeira de três reuniões que tinha na Câmara dos Deputados. Vem de novo o ministro, falar com o presidente da Casa, e lá estava eu disparando flashes entre milhões de outras máquinas, fotógrafos, jornalistas, assessores. Pelos corredores da Câmara, imagino quantas pessoas importantes, poder, decisões, lutas e caminhos rolam junto comigo naquelas esteiras que ligam os vários anexos do complexo dos deputados.

Sabe, nessas horas, dá até pra sentir um alívio em ter escolhido fazer uma coisa importante e emocionante, para o resto de sua vida.

P.S.: Só uma dúvida: eu tenho 21. E quando tiver 30 de verdade???

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carteira de motorista

É deprimente perceber que você não escutou o que suas amigas te falaram e esteve cega a todos aqueles sinais vermelhos escancarados na sua frente. Seguiu em frente, não parou nas faixas de pedreste e não prestou atenção nos sinais amarelos. Bateu. Quebrou a cara e se despedaçou. Mais uma vez.

Quantas vidas haverá para serem arrebatadas? Quantas vezes se permitirá tal violência? Quantas vezes o seguro pagará o prejuízo do seu carro? Quantos atropelamentos movimentarão a esquina da sua casa?

Só um pedido. Antes que eu saia de carro, meninas, não apenas me avisem. Escondam as chaves. Me dêem os restos dos tarjas pretas que carrego na bolsa e me coloquem pra dormir. Não apenas me avisem, educadamente. Gritem, me obriguem. Me impeçam de cometer uma imprudência.

Eu sei, eu ainda não tenho licença pra dirigir. Quando eu crescer, talvez eu tenha uma. Por isso eu peço carona. Não me deixem sair de carro.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Alanis Morissette

Antes mesmo da notícia de que me mudaria para Brasília, eu já tinha um compromisso na cidade: o show da cantora internacional da minha pré-adolescência/adolescência, Alanis Morissette. O seu primeiro cd, Jagged Little Pill, lançado em 1995, quando eu tinha 8 anos, chegou em minhas mãos em 1996, quando minha irmã completava 15 anos e numa dessas tradicionais viagens de debutantes, uma amiga trouxe pra ela dos EUA. Pra mim a menina trouxe uma lapiseira da Disney, que eu logo perdi; e a Alanis eu ganhei pro resto da vida.

Esse cd foi o maior legado que minha irmã me deixou (um dia tenho que dedicar um post à complicada relação que eu tenho com ela). É claro, com 9 anos, eu não entendia direito o teor daquilo que é a coisa mais rock da minha vida: Alanis Morissette. Um parêntese aqui pra eu reconhecer o quanto é estranho, eu, pagodeira e micareteira, gostar de Alanis. Ins't it ironic? Don't you think? A little too ironic? YEAH, I really do think.

Eis que, depois de descobrirmos que a Alanis também foi um legado da irmã mais velha na vida da Marília, lá fomos nós, carregando a Luti e o Felipe, para o primeiro show internacional de nossas vidas. Uma do lado da outra, nós acabamos com as cordas vocais e a emoção que existia dentro da gente. E eu, com um pouco de uma cerveja recém-descoberta na capital federal, um dia eu conto dela.

Demorou muito pra gente acreditar que tinha visto aquela diva cantar com uma voz única, igualziiiiinha à dos cds, e gestos revoltados como uma explosão que todos nós queremos explodir, you oughta know... And I'm here to remind you of the mess Alanis left when she went away. Até hoje estou passada com a força de suas canções. Foi dos melhores shows da minha vida e um perfect início de vida social em Brasília, que venham mais programas interessantes.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Brasília



A vida tem dessas coisas. Desesperada com o iminente desemprego, vi meu desespero se transformar num curto espaço de uma semana. Fui à Brasília numa terça-feira fazer entrevista. Me ligaram na sexta: "Você começa segunda-feira, às 8h"; "Obrigada, até segunda". De repente, comecei uma mudança de tamanho inimaginável; naquele momento, só sentia empolgação porque tinha conseguido um trabalho.


Antes, Brasília me lembrava apenas turismo, além de corrupção, é claro. Depois de formada, eu dizia querer mudar pra qualquer lugar, num ímpeto desafiador de horizontes que nunca tinha me tomado. Porém, quando falava isso, eu pensava em Vitória, que é minha segunda casa. E não numa cidade totalmente estranha, de atmosfera pesada, que respira poder, política, dinheiro e trabalho, muito trabalho.

Desde sempre acostumada com mudanças, comuns na infância devido ao trabalho do meu pai, e na adolescência devido aos meus estudos, lá fui eu, corajosa. Com medo, porém animada, principalmente com o trabalho, que eu estou adorando. Toda a rotina de uma assessoria de comunicação de uma associação nacional, importante, concentrada em mim. Os assuntos que eu já conhecia e gostava, numa perspectiva macro. E eu me desdobrando em mil pra dar conta.
Dá uma sensação de "eu cresci", que vocês não imaginam. Acordar, sair pra trabalhar, ter horário de almoço, salário, vale-refeição, viagens profissionais (esse final de semana já vou pra São Paulo), obrigações, chefe bravo.

Fora o trabalho, que consome boa parte de mim, só saudade. Saudade de uma rotina que eu sei que não volta mais, porque a responsabilidade só aumenta. Saudade de gente na minha vida. Das amizades que eu tinha acabado de consolidar, da liberdade na minha cidade natal, das conversas de liquidificador, dos sempre quase namorados, do shopping com as amigas, da discoteca no estágio, das minhas mães, da casa de bonecas, do ninho, do carinho.

Brasília ainda está muito vazia e rígida. A mais nova empreitada da minha vida é descobrir a Brasília leve e amigas que não sejam as paredes da minha casa.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Tia


Sexta-feira passada um telefonema quase me fez chorar. Pedi demissão da escola em que trabalhei nos últimos quatro anos. Aos dezessete anos, foi um grande presente ser contratada pela melhor escola da cidade. Eu era confundida com os alunos, que tinham dois, no máximo três anos a menos que eu. Pessoas de quem eu me lembrava quando estudei ali, dos 9 aos 14 anos. Podia até ter brincado junto ou conversado na hora do recreio, nas festas.




Nunca me esquecerei das caras assustadas quando eu entrava na sala de aula. Menos ainda das perguntas sobre a minha idade e das reações sempre desacreditadas. "17? Mentiiiiiiiira!" O que você faz? Na Federal? Nooooooossa! Você estudou muito? Estudou aqui na escola? Tem namorado?

Eu era a "tia" da galera, porque era assim que eles me chamavam. A tia que eles encontravam nas festas, na rua. A tia que não repetia roupa, porque eles sempre reparavam no modelito. "Quanto for fazer faxina no armário, lembra de mim, tia!" A tia que matava milhões de árvores gastando tanto papel. Das intermináveis listas, que não sabia chamar atenção, muito menos brigar, e preferia mandar os desinteressados dormirem. "Vai gente, dorme aí, é melhor! A aula tá chata, dorme!"


A tia que fazia de tudo pra ser menos chata. "Ana Paula, não é você. É a matéria. Eu odeio redação". A tia que provocava revoltas com as notas baixas. "Eu só tiro 5. Não vou fazer redação mais não!". "Fulano, vale 8. 5 é um 7, é uma nota média. Tem que praticar mais". A tia que fazia ditado e que parava aulas pra tentar enfiar na cabeça dos alunos que "derrepente" é "de repente" e "concerteza" é "com certeza". A tia que atrasava horrores para devolver as provas corrigidas... Mal sabem eles o que é corrigir aquele tanto de prova e o quanto eu me dedicava nisso.


Sentirei saudades. De tudo. De me chamarem de tia, das reclamações por nota, dos elogios, das declarações de amor e ódio, das risadas, das brigas. Principalmente dos alunos. Dos que gostavam de mim, dos que queriam me matar, dos que me achavam ótima, dos que me achavam péssima. Dos que me elogiavam, dos que me criticavam.


Eu tentei ensinar algo. Acho que consegui. Se eu tiver inspirado alguém na busca pelo estudo, já valeu, porque tudo que eu consegui na minha vida até hoje, foi pelo que me esforcei estudando. Mas é fato que eu aprendi mais do que ensinei. E isso é o mais bonito dessa profissão, é uma via de mão dupla interminável, apaixonante, apesar de cansativa.

Eu poderia contar aqui mil histórias que vão deixar saudades. Mas o post é só um breve homenagem e agradecimento a todos os que me acompanharam e me apoiaram nesses anos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Celina

Temos quase a mesma idade, eu sou um ano mais nova. Ela veio do interior do Espírito Santo, para a cidade grande, trabalhar e estudar; está no segundo ano de Pedagogia. Na região da Mata Fria, onde nasceu e foi criada, predominou a colonização italiana. Daí herdou o cabelo loiro e os olhos verdes.

Fala demais, trabalha demais, dá opinião demais. Todo mundo se diverte com as gafes típicas de alguém que não sabia o que era shopping, nunca tinha andado de avião, não tinha vida social e vivia na "venda" da região, que é do seu pai, sofrendo toda sorte de abordagens masculinas, aprendendo o palavreado mais xulo possível e armando barracos homéricos, sempre.

Hoje ela tem carteira de motorista, faculdade, salário e mais calma. Não se cansa de declarar a vergonha que sente do seu período barraqueiro. Ela tem um noivo. Foi passar o reveillon na Mata Fria e voltou de aliança. Há muito tempo está comprando móveis (de primeira linha!) para sua casa. Mas ela diz que está enrolando o coitado, que não quer casar não, que quer ser independente!

Uma tarde, foi à praia comigo depois do serviço. O primeiro surfista falou com a gente, coisa que não acontecia comigo sozinha! Me ensinou a andar de ônibus, foi minha parceira no baralho e me fez relembrar como é bom andar de bicicleta.

Celina é a empregada da casa do meu tio. Pessoas assim são felizes com o pouco que têm, enquanto nós reclamamos muito, querendo sempre mais. Eu sou adepta da ambição e ainda quero ter muita coisa na vida. Mas aprendi que enquanto não tenho, estava perdendo muito tempo lamentando essa falta. A Celina chorou quando eu fui embora, e eu fiquei feliz por ter aprendido grandes lições com ela.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Reveillon, música e identidade [2]


Quando no Espírito Santo, eu sempre achei a cultura muito diferente. Por isso a observação sobre a trilha sonora do reveillon e o post passado. Mas aquilo tudo que eu falei sobre a identidade e a música capixaba se restringiu à noite do reveillon.

Depois, me surpreendeu um traço da cultura goiana impresso na capixaba. Um traço não, quase um desenho inteiro. O que eu mais escutei na praia, vi nos sites, escutei na rua, nas rádios, das pessoas, foi música SERTANEJA. Vocês acreditam nisso? Se vocês, goianos, querem se orgulhar de algo regional, orgulhem-se da música sertaneja!

Que invasão! Vitória está tomada! Eu não é só música da modinha não. Apesar de Vitor e Léo ser a sensação do momento, eles também ouvem o clássico "modão", daqueles antigos mesmo, que a gente está acostumado por aqui e acha que só goiano conhece. Eu escutei mais sertanejo lá do que normalmente escutaria em Goiás, que overdose! Nunca me imaginei, na praia, torrando no sol, tomando minha água de coco e escutando "Garçon amiiiiiiiigo, apague a luz da minha mesaaaaaaa.... Eu não quero que ela noteeeeeeeee, em mim tanta tristeza....Traga mais uma garrafaaaaaaaa..."

Eu hein, desce mais uma mesmo! Que é teeeeeeenso sair de Goiás pra ir escutar isso na praia. Essa praga está se espalhando! Confirmo o que eu estou dizendo com um caso verídico. Uma noite, num boteco, um dos dez homens sentados próximos a mim, perguntou:


- Do you speak English?

- Yes, I do.

- Oh, thanks God! We're here working, in a ship, and we're looking for some place where we can hear country western music. We're from USA and we have just tonight in Vitória. Can you help me?

É, a cultura goiana parece mais forte que a capixaba. Só capixabas conhecem o Congo. Já o sertanejo...


Reveillon, música e identidade


Da sacada, víamos a praia de Camburi, a queima de fogos em Vitória e Vilha Velha e estávamos de frente ao palco montado pela prefeitura para a festa. Diferente. Sem rituais. Não pulei ondas, não comi uvas verdes nem romã, não ofereci nada a Iemanjá. Vi a pirotecnia em silêncio no meu cantinho e fiz uma oração. Tranquilamente. As minhas resoluções para o ano já estavam sacramentadas na minha mente.

Depois da virada, começou o show principal, da banca capixaba Casaca. Minha prima explicou que casaca é o nome de um instrumento tradicional usado na banda. Eu já conhecia alguma coisa, depois de tantos verões por lá. A banda nasceu com algo de forró pé-de-serra e depois se misturou ao congo, um ritmo tradicional na região. O resultado é algo que na primeira audição, nós, desacostumados, associamos ao reggae. Parece um reggae pai-de-santo, pelo modo como as pessoas dançam, como se estivessem incorporando uma "entidade". É legal.

Pesquisando, vi que o congo de lá, tem algo a ver com a congada daqui, famosa em Catalão e Pirenópolis. Como eu nunca tinha visto, precisei ir longe de casa para gostar do ritmo. Eu fiquei quietinha enquanto minha prima "surtava" na areia. Achando tudo muito engraçado e diferente da cultura a que eu estou acostumada.

Nessas horas eu até me lembro dos primeiros semestres da faculdade, da aula de cultura brasileira ministrada por uma professora toda estilosa, ligada nas manifestações culturais, indígenas, identidades e blá blá blá... Lembram da alteridade? Gilberto Freyre, Roberto DaMata, Peter Fry... Lembro também da minha primeira reportagem para o Jornal UFG, sobre a 25ª Reunião Brasileira de Antropologia, sediada em Goiânia. A primeira vez que eu tive credencial de imprensa, fui a um coquetel e encontrei grande parte desses autores que eu tinha lido na aula.

Saudade. Quatro anos depois, formada, lá estava eu pedindo um emprego para o ano novo. Enquanto não vem emprego e pauta, eu fico aqui postando no blog.


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

De volta


Passei 17 dias na praia. Mais exatamente em Vitória, Espírito Santo. Parcialmente, meus dias off realmente serviram pra colocar um pouco a cabeça no lugar, me descobrir, me entender melhor e quase me encontrar. Como eu tinha prometido, contarei algumas coisas aqui, então vamos aos relatos! Começando pela parte "Comer rezar amar"

ORIGENS

Minha mãe é goiana e meu pai é capixaba. Eu sempre disse que parecia com meu pai e que me identificava mais com a família dele, mesmo sem conhecê-la direito. São 11 irmãos. Eu conheci 6, mas nunca tive muito contato. A distância atrapalha, e, na verdade, nunca houve iniciativa maior de aproximação por nenhuma das partes. Meus esforços foram sempre tímidos.

Dessa vez, eu viajei com o objetivo de conhecer melhor minhas origens. Meu tio vivo mais velho tem até uma árvore genealógica. Meus avós eram nordestinos, mas não descobri muito sobre eles. O mais legal mesmo, é quando a gente ia almoçar e os irmãos contavam histórias da infância, passada no bairro de Santo Antônio, que fica num morro na periferia de Vitória.

Lá, meu avó começou modestamente a vida e a família. Pelos relatos, percebi que ele era muito adorado, um líder nato, que criou até um time de futebol! Tão querido, que virou nome de rua: Av. Dario Lourenço de Souza. Outra coisa: a Av. Dario Lourenço de Souza é a avenida do sambódromo de Vitória! Esses dados podem até explicar uma grande indagação que sempre fiz sobre mim: de onde aprendi a gostar tanto de futebol e carnaval? Meus pais sempre se fazem essa pergunta também, porque eles passam longe de estádios e trios elétricos.. Como eu saí assim?

Além do time de futebol, meu avô já teve uma linha de ônibus em Vitória, que o meu tio Rubinho (que eu não conheci) dirigia e meu pai também já ajudou. Meu outro tio, Mazinho, que eu também não conheci, inventou uma história de montar bicicletas que envolveu vários irmãos na linha de produção. Nunca imaginei meu pai montando bicicleta! Mas segundo eles, o mais divertido era na hora de levá-las para a loja...

Meu pai era o mais nerd. Ele fez letras e filosofia. Os irmãos o admiram muito. Só por que ele fala inglês, francês e alemão? Ah, que isso! Ele sempre ganhava prêmios e condecorações na escola. Mas o legal mesmo, foi ver que o irmão mais novo, tio Gilson, gansava os livros do meu pai e no dia do churrasco, a gente pôde até travar uma conversa em alemão, na beira da piscina.

Assim como eu podia pedir previsões meteorológicas para o tio Wilson, que trabalhou na aeronáutica, como meteorologista, e para o meu primo Edu, filho dele, que seguiu a mesma carreira. Pena que o Edu acertou na previsão, e disse que ia chover... Aí também não era novidade, no dia da feijoada, a gente lembrar dos nomes das nuvens... Ou até discutir a reforma ortográfica. Fiquei orgulhosa desse alto nível intelectual.

Orgulhosa, essa é a palavra. Sem falar na outra geração... com o meu primo que acaba de se formar no ITA, e a outra que passou num curso da Petrobrás de sei lá o quê. No fim das contas, senti mais responsabilidade ainda de estudar, trabalhar, ser alguém na vida. Mas como estava de férias, não quis me estressar muito com o meu atual desemprego...

Quis apenas entender os caminhos, o que as pessoas já fizeram na vida, como fizeram. A média de idade da minha família é muito alta. Meus primos mais novos tem 30 anos... Sem falar nos quarentões e cinquentões... E, falando na parte filosófica da viagem, do meu objetivo de me entender melhor, isso foi muito bom. Aprender com a experiência e saber que eu ainda tenho muito o que viver. Experiência essa visível nos cabelos brancos, o traço genético mais visível. Procuramos os "Lourenço de Souza" pela cabeça.