sábado, 27 de setembro de 2008

Eu e a micareta

Desde criança eu gosto de axé. Eu sei qualquer música do início dos anos 90, da Banda Mel, da Banda Cheiro de Amor ou do Netinho. De quando a Ivete Sangalo ainda não tinha aquelas pernas, era uma magrela com um cabelão lambido e Claudinha Leite (carioca que é), nem sonhava em ganhar o ritmo da Bahia. Chiclete com Banana então, aí sim era religião, como os mais fanáticos pregam até hoje, quando o abadá chamava mortália, o Bel usava short e o axé era axé de verdade.


Infelizmente, hoje o axé está banalizado. Toda cidadela minúscula do interior tem uma micareta, sem falar nos"carna facul"da vida e nos congressos disfarçados de festa. Tudo bem, quem está lendo e me conhece, sabe que eu vou neles. Vou, só que eu sou uma maicaretira consciente! kkkkkkkkkkk

Pra começar que não estou ali para pegação, um preconceito que hoje me incomoda, mas que tem uma razão de ser, justamente por causa da banalização. O povo realmente aposta quem vai beijar mais e beija um moooonte sem nem saber o nome... Mas eu nunca estive ali pra isso, dá pra entender?


Eu quero saber da música, daquela batida contagiante, que entra pelos meus ouvidos e impregna minha alma. É sério, se acharem que eu estou exagerando. Pra mim aquilo é uma injeção de ânimos, de alegria, de vida! Não seria como aqueles roqueiros pulando, gritando e delirando com um solo de guitarra?! Pois é, eu deliro com a batida da percurssão, com o toque do tambor.


Pena que está cada vez mais difícil de achar uma micareta genuína. O que acho é um monte de banda tocando enquanto uma cambada de emergentes, que acham que 'bola de sabão' é axé de verdade, permbulam atrás do trio procurando pelos seus relacionamentos fugazes. Um bando de gente que está ali porque tá na moda. Mas micareta não é modinha, pelo amor de Deus!


Vamos à prática. Ontem fui ao Micaregoiânia, diga-se de passagem, só porque ganhei o ingresso, porque cada vez mais estou menos disposta a pagar pra me revoltar com os emergentes. Show do Asa de Águia; massa. Adooooooro. E Jorge e Mateus Elétrico - ai meu Deus, até dupla sertaneja já tá achando que é do axé e que pode se apossar do nosso palco sagrado. Enfim, esse é o sinal da micareta moderna, tenho que me adaptar. E Jorge e Mateus é até animadinho, só não é pra evento de axé.


Chegando lá, pra começar, tem um monte de crianças. Ou seja, menos gente que sabe o significado de músicas como Baianidade Nagô, Chame Gente e Prefixo de Verão. Beleza, nada faz desaminar a minha vontade de ver o Asa, precursora, 20 anos de banda, em 25 de axé music. Doce ilusão. Caráca, com quantos anos está o Durval? Ele mal levantava o braço com a galera. Eu acho que é a primeira vez que eu falo que uma micareta foi ruim, mas essa foi. O Asa, literalmente não arriou. Sou leiga nisso, mas pode ser o sistema de som, sei lá; o trem tava baixo, abafado e não contagiou.


Realmente, já não se fazem mais micaretas como antigamente. E o pior, é que pra aquele povo que estava lá, também nem faz diferença, eles não sabem o que é micareta de verdade mesmo...


Até o show do Netinho no Café Cancun foi melhor. Isso sim é que é axé. E não significa Mila. Uma galera delirando ao som de axés oldiesssss... Você vai se lembrar:


*"Preciso de vocêe, sentir o seu calor e a sua companhiiiiiia... Quando você chegar, eu quero te mostrar, a minha alegriiiiiiia.. Aí meu coração vai poder sossegar"...

*"Amor, eu fico.. nesse balanço você baila comigo, amor eu fico... amor eu fico, nesse balanço você baila comigo..."


E hoje tem chiclete com banana.. com essa chuva, será que eu vou?!

beijos!!






terça-feira, 2 de setembro de 2008

Músicas

Carente profissional (Cazuza/Frejat)
"Tudo azul
No céu desbotado
E a alma lavada
Sem ter onde secar
Eu corro
Eu berro
Nem dopante me dopa
A vida me endoida

Eu mereço um lugar ao sol
Mereço
Ganhar pra ser
Carente profissional

Se eu vou pra casa
Vai faltando um pedaço
Se eu fico, eu venço
Eu ganho pelo cansaço
Dois olhos verdes
Da cor da fumaça
E o veneno da raça

Eu mereço um lugar ao sol
Mereço
Ganhar pra ser
Carente profissional

Levando em frente
Um coração dependente
Viciado em amar errado"

Eu poderia ter escrito isso.
As palavras, eu sinto todas, formando uma poesia que me dói,
enquanto eu mergulho no escuro e escuto música
esperando meu dopante me dopar.

Açaí (Djavan)
"Solidão de manhã
Poeira tomando assento
Rajada de vento
Som de assombração
Coração
Sangrando toda a palavra sã
A paixão
Puro afã
Místico clã de sereia
Castelo de areia
Ira de tubarão
Ilusão
O sol brilha por si
Açaí guardiã
Zum de besouro
Um ímã
Branca é a tez da manhã
Açaí guardiã
Zum de besouro
Um ímã
Branca é a tez da manhã"

Essa eu não poderia ter escrito,
há rimas e palavras nela que vão além da minha imaginação.
Mas ainda assim, sinto.

Também já tocou Alice, Sina, Nem luxo nem lixo, Fulgás, Nada por mim
e nada de eu dormir.
Pra completar a tristeza, aparece "frisson",
que era tudo que eu queria sentir e cantar;
e se eu tivesse motivos para tal
não estaria nessa escuridão, muito menos nesse post meloso.
Mas como meu blog é mais um instrumento psicológico
do que literário, lá vai.