segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Sobre gramática e abstrações

Na escola, sempre fui ótima aluna. Português era a minha especialidade. Mas, como nem tudo é perfeito, tinha uma coisa que eu sempre errava: substantivo abstrato. Acertava tudo na prova, com o único erro de sempre: “retire do texto um substantivo abstrato”. Lembro da minha mãe, na entrega das notas, pedir à professora uma atençãozinha especial, porque eu sempre errava isso.

Passou a época em que o difícil do português era o substantivo abstrato, e eu sobrevivi a outras matérias bem piores. Eis que, formada, ao prestar um concurso público de nível superior, para o Ministério das Comunicações, erro uma questão por causa da bendita parte do item que classificava dois substantivos como abstratos.

Mais do que a infantil frustração do erro, me coloquei a pensar: será possível haver dificuldades etéreas? Existem coisas nessa vida que nunca superaremos, ou demoraremos anos a fio para superar? Longe do “erro abstrato”, essa dúvida me desespera.

O desespero, apesar de ser um substantivo abstrato (será que acertei?), anda pairando bem concreto na vida. Mas será um desespero real ou puro devaneio, fruto da imaginação, aquela mais abstrata ainda?

Me parece muito abstrato acreditar, passivamente, que um dia a gente supera. Até hoje eu não aprendi a classificar substantivos concretos e abstratos. Será possível separar desespero tolo, de reflexão profunda e superar o erro? Vejamos na prova do Ministério da Saúde...